Recentemente estivemos num evento que promove a sustentabilidade e a transparência. Nesse evento demonstrámos especialmente tudo o que fazemos para nos tornarmos uma empresa mais ecológica e os passos que estamos a dar para que isso aconteça.
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Sobre a transparência? Parece-me que as centenas de vídeos no nosso canal Youtube e artigos neste mesmo blog falam por si.
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Mas este artigo não será sobre esse evento. Apenas me lembrei dele devido a uma discussão que tive com uma fundamentalista do "made in Portugal" (apoio a produção nacional sem fundamentalismos, obviamente).
E chamo-lhe fundamentalista porque ela não conseguiu compreender factos e simples lógicas. Para esta pessoa, se não é feito em Portugal, existe exploração. Ponto. Simples. Acabou a discussão. Os certificados não interessam, as lógicas não interessam. Mais vale ter portugueses no desemprego do que criar marcas a partir de roupa que não é produzida em Portugal desde o fio de algodão (dito pela mesma). Pareceu-me ser uma blogger que viu um documentário há uns tempos...
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Curiosamente hoje li esta publicidade numa das revistas do Observador.
Confesso que sempre que vejo estes títulos fico com comichão. E o excesso poderia ser do título, não fosse a criadora da marca dizer a determinada altura Todas as peças são confecionadas em Portugal, em atelier. A génese do projeto é ser 100% português.
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Estragou, lamento. Não me irei alongar, com a excepção de colocar algumas questões a todos os leitores.
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EM QUE ZONA DE PORTUGAL CRESCE O ALGODÃO?
Eu respondo. Não produzimos algodão em Portugal. Na verdade, os maiores produtores de algodão são os USA (maioritariamente para produção própria) e os bichos papões do Bangladesh, India e Paquistão. Tem algo a ver com condições climatéricas, consta.
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NA MAIORIA DOS CASOS AS CONFECÇÕES TRABALHAM O ALGODÃO OU O TECIDO?
Eu respondo. Lamento, mas aquela zona de Portugal imaginária de onde vem o algodão também o trabalha na maioria dos casos e transforma-o em tecido antes de o exportar para o Portugal que nós conhecemos onde realmente é produzida a roupa feita em Portugal.
Há honrosas excepções, diga-se e temos em Portugal quem trabalhe o fio de forma incrível. Mas são a minoria, sejamos honestos.
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COMO PODEMOS DIZER QUE É 100% NACIONAL SE A MATÉRIA PRIMA NÃO É NACIONAL?
Eu respondo. Não podemos.
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ENTÃO SER PRODUZIDO EM PORTUGAL OU NO BANGLADESH É IGUAL? NÃO APOIO O QUE É PORTUGUÊS?
Não foi isso que disse. Apoiarei sempre o que é Português e o que é made in Portugal. No entanto é preciso pensar, é preciso conhecer o mercado e saber aquilo que estamos a comprar. NUNCA compraremos o 100% nacional no que a roupa diz respeito porque a matéria prima não é portuguesa. Não crescemos 1cm de algodão em Portugal e isto é um facto.
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O que me incomoda é a publicidade enganosa.
O que me incomoda é transformar a Ásia num demónio quando há projetos a serem produzidos lá que têm valor e que tiram centenas/milhares de pessoas da pobreza e dão-lhes condições de vida que nunca sonhariam ter de outra forma.
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A All Made trabalha no Haiti dando condições de vida e de trabalho a orfãos, retirando-os da pobreza extrema e de um ciclo quase inquebrável, geração após geração.
A TH Clothes trabalha com a AMI na construção de escolas.
A Mukua tem produção própria em África.
A Sol's tem fábricas próprias onde garante as condições de trabalho dos funcionários, não dependendo de outsourcing.
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E todas estas - e várias outras marcas - têm certificações internacionalmente reconhecidas e renovadas regularmente (o que significa que são inspecionadas) para garantir que cumprem e ultrapassam todos os standards Europeus de segurança e de condições de trabalho.
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O Fast Fashion tem exemplos que NÃO devemos seguir? Tem, sem dúvida! Devemos afastar-nos das grandes cadeias de lojas sempre que possível. Abolir por completo? Não sou fundamentalista e acho que a polícia não ia achar piada andar nu pela rua.
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